Quaresmais

 
As ruas do Centro de São Luís são cenários seculares das procissões Quaresmais, que a cada sexta-feira do período representam uma passagem da Paixão de Cristo, sendo organizadas pelas Irmandades religiosas homônimas,com toda pompa e esplendor, sediadas nas diversas igrejas da capital.

A Procissão dos Paços, organizada pela Irmandade do Senhor Bom Jesus dos Passos, que era a mais rica e pertencia à Igreja do Carmo, há mais de cinquenta anos não sai as ruas. E era ela que abria as solenidades do período, na primeira sexta-feira após o carnaval, visitando os passos da Qauresma.

Na segunda sexta-feira do período sai da Igreja de Santo Antônio a Procissão do Senhor Bom Jesus da Coluna, organizada pela irmandade de mesmo nome; Na terça sexta-feira sai a Procissão do Senhor Bom Jesus dos Martírios, organizada pela comunidade, na quarta sexta-feira sai a Procissão do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, anteriormente da Capela do Convento das Mercês, como o fechamento do local a Irmandade se transferiu para o Desterro, sendo organizada hoje pela comunidade daquele bairro, em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado. Na sequência ainda temos as tradicionais procissões da fugida e do encontro organizada pela Irmandade de mesmo nome; e fechando o ciclos das procissões quaresmais as procissões do Senhor Morto da Catedral e da Capela dos Navegantes


Procissão de Bom Jesus da Coluna

A procissão do Senhor Bom Jesus da Coluna representa o momento em que Jesus Cristo foi flagelado. O início da solenidade se dá com o translado da imagem, na quinta-feira anterior, da sua Capela para a Nave Central da Igreja de Santo Antônio , nessa cerimônia antigamente eram entoados os piedosos motetos.

No outro dia no final da tarde a imagem sai em solene procissão pelas ruas da cidade, no passado realizava o seguinte giro, conforme Jornal Pacotilha, O Globo de 1958: Praça Antônio Lobo; Rua de Santo Antônio, Sete de Setembro, Nina Rodrigues (atual Rua do Sol), Praça João Lisboa, Osvaldo Cruz (atual Rua Grande),Praça Deodoro, Rua Rio Branco, Rua José Bonifácio, Treze de Maio e Praça Antônio Lobo, quando recolhia C capela ao som dos sagrados motetos..

Atualmente esse giro foi diminuído e após passar pela Rua Grande, quando chega na altura da Rua Treze de Maio, retorna para a Capela da Coluna. Na década de 1960 ela foi proibida pelo Arcebispo de São Luís, retornou na década de 1990, após a nova reorganização da Irmandade. 

Procissão de Bom Jesus dos Martírios

 Na 3ª sexta-feira quaresmal, consagrada à comemoração das Cinco Chagas de N.S. Jesus Cristo, realiza-se a procissão do Senhor Bom Jesus dos Martírios.

Na quinta-feira, véspera da procissão, ao começo da noite, a imagem de Bom Jesus era conduzida solenemente já andor, para o corpo da Igreja de Sant’Ana onde se ia venerar; e após a entonação de Moteles, era a imagem velada aos devotos, fazendo os irmãos constantes da pauta o quarto que nesta lhes incumbia. O desvendamento do andor aos fiéis dava-se momentos antes de sair a procissão, logo que findava o sermão denominado – da saída.

Terminando o sermão organizar-se-á a procissão para sair, começando o cortejo pela Guião da Penitência, conduzido pelo irmão mais moderno do ano antecedente, seguindo-se-lhe o Pendão; e tanto deste como daquele, as guias serão levadas pelos confrades que a Mesa determinar.

Logo após formará o irmão mais moderno, conduzindo a respectiva vara, a ele se seguirá a cruz da irmandade, com manga roxa, abrindo caminho a confraria, em alas, sob a direção dos irmãos zelador e procurador. Adiante da comunidade ou comunidades, que acompanharem a procissão, irá o andor do Bom Jesus, carregado por quatro irmãos mesários, aos lados dos quais formarão quatro outros conduzindo lanternas. Atrás logo do andor seguirá o irmão secretário, com a vara que lhe competir.

Irá depois o andor da Senhora das Dores, carregado por quatro confrades dos mais idosos ou graduados, também com quatro lanternas, ladeando-o.

No fim da comunidade irá o sacerdote que presidir a cerimônia, sob o pálio, com o santo Lenho, formando em último escalão o irmão procurador, com a vara simbólica do seu cargo.

Recolhendo-se a procissão, e findo o sermão da entrada, havia a cerimônia da adoração ao Calvário, sobre o qual figuravam todas as crianças que, simbolizando anjos, tomavam parte no préstito.

No regulamento interno da Mesa da Irmandade, para a execução do Compromisso, há um artigo das Disposições Gerais determinando que, no dia da procissão, se colocaria, entre o Guião da Penitência e o Perdão, um homem vestido de negro com um clarim, no qual deveria tocar durante o giro processional.

No artigo do Compromisso determinando esse giro dizia: “Sairá esta procissão da igreja de nossa residência, procurando a de S. João e descendo pela rua do Sol, voltando na da Palma, seguindo até à de Sant’Ana, por onde subirá até recolher-se na mesma igreja, onde tornará a haver outro sermão: sendo toda esta despesa, como já foi dito, à custa do Provedor; e nunca esta Procissão se poderá afastar deste círculo, senão, por causa de qualquer desarranjo das ruas do mesmo círculo”.

Houve, com efeito, não somente por ocasião do calçamento da rua de Sant’Ana, como pelo dos consertos, e também calçamento de outras ruas, compreendidas no giro prescrito, necessidade de ser este alterado. Removido, porém, tal óbice, não se conservou a inalteração do giro processional que por muitos anos permaneceu ampliado, Istoé, na saída, quanto o préstito subia a rua de Sant’Ana até encontrar a do Passeio, e pela qual se encaminhava para descer pela Rua Grande, até dobrar a de S. João, onde retornava o giro estatuído.

Embora sem a pompa e o esplendor com que nos primitivos tempos procuravam revesti-la a procissão do Senhor Bom Jesus dos Martírios ainda hoje constitui parte integrante da nossa comemoração quaresmal, esforçando-se a sua Irmandade em imprimir a todas as cerimônias perante os olhares dos pósteros, o mesmo cunho tradicional que formava outrora a grandeza do seu culto.


Procissão de Bom Jesus da Cana Verde

Temos na sexta-feira consagrada à comemoração do Preciosíssimo Sangue de N.S. Jesus Cristo, e a quinta da Quaresma, a procissão do Senhor Bom Jesus da Cana Verde.
 

O seu culto compromissal consta da veneração da nossa S.S. imagem do nosso Senhor Deus e Redentor, com a invocação de N.S. Bom Jesus da Cana Verde, cuja festividade solene é no primeiro domingo do mês de maio ou no domingo seguinte se houver impedimento naquele, com o maior esplendor e devoção, vésperas, missa cantada e o S.S. Sacramento exposto, e da procissão quaresmal, na sexta-feira intermédia às das procissões do Bom Jesus dos Martírios e dos Navegantes.

Acabado o sermão do Pretório, que o Provedor e a Mesa encomendariam ao melhor Pregador que houvesse, começaria a saída da procissão, pelo Guião da Penitência, conduzido pelo Procurador. Seguir-se-lhe-ia o Pendão levado pelo tesoureiro ou, na sua falta, por outro irmão pertencente à Mesa; e desta seriam os que pegassem nas guias. Logo depois, formava a Irmandade, por sua ordem, e, no lugar competente o andor do Santo, carregado pelos Mesários ou outros irmãos.

Após o andor, formava a comunidade de Religiosos, de N.S. das Mercês e, depois, outras comunidades e o Clero, seguindo-se quem lhe presidisse, revestido, com o Santo Lenho, debaixo do pálio, atrás do qual formava o Provedor, com a vara respectiva.

Depois do préstito ter dado o giro, se recolhia ao mesmo convento, onde havia então a adoração ao Santos Passos e o sermão do Calvário.

O giro processional era, saindo do templo, pela rua da Cascata, subindo a rua Formosa até entrar na Rua Grande, indo por esta encontrar a de São João, e, passando pela frente da respectiva igreja, descia a rua do Sol, entrando pela de Nazaré, para tomar a da Estrela, que percorria em toda a sua extensão, até ao largo das Mercês, ao recolher-se.

Da Europa veio uma linda e perfeita imagem da Senhora das Dores, cujo andor passou a sair do préstito religioso, na mesma ordem que os demais da quaresma.

Desde a véspera da procissão ao anoitecer, quando se efetuava a trasnladação da imagem, já no andor para a porta da igreja, principiavam os quartos em que os irmãos, na sua unanimidade, tomavam parte.

Era imenso o movimento, puramente popular em todo o bairro das Mercês, distendendo-se pelo do Desterro. Celebrava-se, com ceiatas lautas e prolongadas até a madrugada do dia da procissão, a festividade do carnal vulgarmente chamada – dos prestos da Cana Verde.

E, no impecável tom de religiosidade, que a pouca cultura intelectual dos festejos não deixava todavia, de imprimir à cerimônia, numa imitação a todo o transe, das congêneres, não se deixava de perceber o seu orgulho quanto a pompa e o brilhantismo grandiosos não decresciam uma única linha, atingindo o pretendido alvo que era ofuscar a procissão dos Martírios, tornando a da Cana Verde sempre mais faustosa, bem mais imponente.

Na atualidade, poderemos observar ainda um resquício do que foi essa comemoração quaresmal, meio século atrás.


Procissão do Encontro

É a procissão do Bom Jesus dos Navegantes que se realiza na sexta-feira da Quaresma consagrada às Sete Dores de N. Senhora com esplendor e pompa por demais grandiosos.

Pelo estatuído, se não pudesse a procissão ter lugar na sexta-feira quaresmal em que se celebram as Sete das Dores de Nossa Senhora, seria a cerimônia transferida para domingo de Ramos, segundo o permitira o Bispo d. Manuel Joaquim da Silveira, a 14 de junho de 1861.

Na véspera da solenidade, ao anoitecer, era a imagem do Bom Jesus dos Navegantes, transladada de sua capela para a capela mor de Santo Antônio ou para outra igreja, “havendo justo impedimento ou casos extraordinários que assim o exigissem”. Dada esta última hipótese, o Senhor iria coberto e os irmãos o acompanhavam sem os balandraus.

No dia seguinte, a procissão saia da igreja ou capela-mor de S. Antônio, depois do Sermão e obedecia à mesma ordem das demais de Quaresma, figurando no préstito os mesmos símbolos da penitência e da devoção, com o aparatoso cerimonial.

Ao chegar à porta da igreja, ao som dolente dos sinos do seu cadenciado dobrar à Páscoa, o andor do Bom Jesus parava; na sua frente surgia, sobre um banco adequado, o anjo - cantor ou da verônica, em traje cuidadosamente divino e cingindo custoso diadema. Era sempre escolhida preferencialmente uma menina que aliasse à expressão de graciosidade e formosura o tom místico e adorável da personagem que simbolizava.

A multidão acotovela-se, numa porfiada preferência de contemplar de perto o rosto angélico da criança cantadora e, tomada de indizível ansiedade pela audição dos versículos que ele entoava. Mas a cerimônia prosseguia solene e grandiosa. Desenrolando o sudário ensaguentado, o anjo entoava a antífona – O vos quitransitis per viam, - e, finda a cantata, as bandas de música executavam marchas fúnebres. Então, a procissão seguia, indo atrás do andor do santo, em alas, as irmãs precedendo o andor de N.S. das Dores.

O giro que o préstito dava era; ao sair, ruas de S. Antônio, da Cruz, do Sol, e de Nazaré, descendo pela da Estrela, caminho da Praia Grande até defrontar a rua Direita, pela qual subia, vindo à rua Formosa, dobrando pela Grande e entrando na de S. João, a percorria a pé ao largo de S. Antônio, ao recolher-se.

O Senhor Bom Jesus visitava os Santos Passos, na própria igreja; o primeiro e o do Encontro ao sair a procissão, e, ao recolher-se os outros. Havia, então, novo sermão seguido de adoração ao Calvário e cânticos do anjo da Verônica e de Motetes.